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  • Decifrando o código de pontuação feminino - Entendendo as mudanças do código - Parte 1



    Então, outro ciclo passou, e aqui estamos nós, com um brilhante código novo, pronto para 2013. Cada código traz consigo novos requisitos e novos elementos, cada um procurando manter a ginástica melhorando. Podemos começar com um breve resumo da história recente do código.

    O código de 2006-2008 trouxe, indiscutivelmente, a maior mudança que o código já tinha visto, encerrando com o sistema de pontuação 10. O novo código trouxe um sistema de pontuação onde as notas das ginastas são baseadas em duas notas separadas – a nota de dificuldade, que, tecnicamente, não tem um limite máximo; e a nota de execução, que parte de 10. A ideia era recompensar ginastas que competiam com uma série muito mais difícil, que talvez tenham sido tratadas de forma injusta no código anterior (pense em – Kui Yuanyuan na final de trave de 1997 ou no solo de Cheng Fei, na final olímpica de solo em 2004).

    Com a introdução deste novo código, passamos a ver dificuldades sem precedentes, como a maratona de largadas e retomadas de Beth Tweddle nas barras, e competições onde, até agora, 22 mulheres saltaram, com sucesso, o difícil Amanar. Isto comparando com apenas 3 que foram saltados antes de 2004!
    Entretanto, com essa mudança, nós também testemunhamos Vanessa Ferrai, Li Shanshan e Cheng Fei ganharem o ouro no individual geral, a prata na trave e o bronze no salto, respectivamente, com quedas, causando uma séria confusão para alguns fãs, que assistiram ginastas apresentando lindas séries e ficando em cima dos aparelhos para pouco ou nenhum reconhecimento.

    O código de 2009-2012 trouxe ainda mais mudanças. Tentando minimizar o efeito das notas de dificuldade, a quantidade de elementos que contariam para a nota D da série foi diminuída (no código anterior os dez elementos mais difíceis eram contados). Isto levava a séries de barras e trave mais longas, e passagens laterais no solo. Também significava mais acrobacias e menos ênfase na dança e coreografia no solo, levando alguns fãs a reclamar que a ginástica estava perdendo a parte artística que ainda tinha. No novo código, reduziram para 8 elementos contados, diminuindo a nota de dificuldade das séries. Esperançosamente esperava-se que uma ginasta com queda não iria mais medalhar tão facilmente.
    Também tiveram outras duas mudanças bem notáveis para os espectadores. A primeira, nós vimos a remoção do famoso “lunge” no solo. Isto significa que quando a ginasta fizesse algum mortal, ela teria que cravar a chegada, sem se mover de forma alguma para evitar uma dedução, ao invés de poder dar um passo controlado para trás para diminuir a pressão da chegada. Nós também vimos o aumento da popularidade do salto Amanar. No código de 2006-2008, este salto tinha uma nota de dificuldade muito alta, logo, com 6 anos até Londres para dominá-lo, houveram muitos dele antes dos Jogos de Londres.

    Agora nós vamos separar as mudanças por aparelhos, um a um, começando com o salto. Antes de começar a ler o artigo, talvez seja útil relembrar os termos a seguir:

    Valor de ligação (VL):  Bônus dado às ginastas na nota de dificuldade por conectar certos elementos (leia mais em http://www.gymblogbrazil.com.br/2012/09/decifrando-o-codigo-de-pontuacao_26.html);

    Valor de dificuldade (VD): Valor numérico atribuído a uma série, baseado no quão difícil o código de pontuação define que é (leia mais em http://www.gymblogbrazil.com.br/2012/02/decifrando-o-codigo-de-pontuacao.html);

    Dificuldade do movimento/elemento: A cada elemento é atribuído um valor de 0.1 (A), 0.2 (B)... até 0.8 (H), dependendo do quão difíceis eles são (leia mais em http://www.gymblogbrazil.com.br/2012/03/decifrando-o-codigo-de-pontuacao.html).

    Então, o que devemos esperar do novo código?

    Mudanças no salto

    1- Diminuição da dificuldade de alguns saltos

    Muitos saltos de alta dificuldade (geralmente saltos com nota D acima de 6) estão tendo sua dificuldade diminuída. Saltos com entrada de costas para a mesa (Yurchenko e Tsukahara) estão perdendo 0.2 em sua nota D, e saltos de entrada de frente para a mesa estão perdendo 0.1. Isto significa que o Yurchenko com 2,5 piruetas (Amanar) está sendo “rebaixado” de 6,5 para 6,3, mas o Yurchenko com dupla pirueta continua valendo 5,8.

    2 - Notas de execução mais baixas, o que faz ser quase impossível medalhar com uma queda

    Na ginástica, quando a ginasta sofre uma queda durante a série, ela recebe uma dedução de um ponto. Entretanto, quando uma ginasta compete numa final de salto, ela compete com dois saltos. Isto significa que, se ela cair em um dos seus saltos, a nota deste salto ruim será somada com a nota de seu outro salto (sem queda) para fazer a média. Isto faz com que a dedução de sua queda passe a ser de apenas meio ponto, o que permitiu que nas duas últimas olimpíadas ginastas com uma queda, porém com saltos de alta dificuldade, ganhassem medalhas.

    No novo código, este sistema de pontuação irá mudar. As deduções de execução não serão mais somadas para fazer uma média, o que significa que elas serão duas vezes mais severas. Isto significa que, quando notas de salto são dadas, os juízes irão fazer a média da nota de dificuldade dos saltos, mas irão tirar todas as deduções de execução dadas, para os dois saltos, sem fazer a média delas. Isso deixa o salto mais semelhante com os outros aparelhos, onde uma queda é um ponto de dedução de toda a série.

    A nota poderá ser montada de acordo com a equação abaixo:

    Dificuldade (media da dificuldade dos dois saltos) + Execução (10 - deduções de ambos os saltos)

    Comparando com o código antigo:

    Salto 1 (dificuldade + execução) + salto 2 (dificuldade + execução) / 2

    Confira o que aconteceria com a nota de McKayla Maroney em Londres, caso essa nova fórmula já estivesse em vigor:  http://www.gymblogbrazil.com.br/2012/10/nem-tao-complicado-assim.html

    Texto de Bernard Vella, originalmente escrito em http://www.thecouchgymnast.com/?p=7495. Tradução de Isadora Córdova.
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    11 comentários:

    1. com esse novo codigo de pontuação, valor D da series da Daniele e jade serão aumentadas ou diminuidas? qual ginasta dos EUA será beneficiada com esse novo codigo? em uma entrevita Komova falou que vai perder varias ligações com esse novo codigo e que a nota D de sua UB tambem vai diminuir, Alyia falou que a nota D de sua Ub tambem irá diminuir, mas ambas falaram que teram que fazer outras ligações ou elementos novos para que a sua UB continue com o valor 7.

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    2. TUBO BEM, ATÉ ENTENDO ESSA NECESSIDADE. MAS CREIO QUE NÃO HAVERÁ TANTO IMPACTO ASSIM PARA AS GRANDES SALTADORAS (ME REFIRO AS QUE ARRISCAM O AMANAR), POIS PELO QUE OBSERVO EM RELAÇÃO AO JULGAMENTO DA NOTA DE EXECUSSÃO, HÁ UMA CERTA PROTEÇÃO A TAL SALTO. EXPLICO:
      QUASE TODAS QUE SE AVENTURAM NO AMANAR, CONSEGUEM NOTA DE EXECUÇÃO ACIMA DE 9,200, INDEPENDETEMENTE DA CHEGADA. SE CHEGAR COM UMA BOA ATERRISAGEM ENTÃO, NEM SE FALA (ACIMA DOS 9,500). E MESMO COM QUEDA MANTEM NOTA ALTA DE EXECUÇÃO, O QUE SIGNIFICA POUCA DEDUÇÃO ALÉM DO 1,000 PONTO (GERALMENTE ACIMA DE 8,200). BEM DIFERENTE DO QUE SE SUCEDE COM OUTROS SALTOS, DE DIFICULDADE INFERIOR, SÃO RARÍSSIMAS AS GINASTAS QUE ALCANÇAM UMA EXECUSSÃO PRÓXIMA DE 9,000 (ACIMA DISSO SÓ SE FOR AMERICANA, CHINESA, RUSSA OU ROMENA).
      TALVEZ ESTEJA FALANDO BOBAGEM, POR SER UM MERO EXPECTADOR E ADMIRADOR DA GINÁSTICA. MAS É O QUE ENXERGO NA MAIORIA DAS COMPETIÇÕESQUE ASSISTO.
      OUTRO EXEMPLO QUE ENFATIZA ESSA OBSERVAÇÃO, É O CASO DO YURCHENCO COM DUPLA. NESSE SALTO A EXECUÇÃO PARECE QUE NÃO PASSA DE 9,300 (EXCEÇÃO DA MUSTAFINA EM LONDRES QUE CONSEGUIU 9,400, EU ACHO).
      É ISSO O QUE DIGO, SE O SALTO DA MUSTAFINA FOSSE A DUPLA E MEIA NO LUGAR DA DUPLA, MAS COM O MESMO NÍVEL DE EXECUSSÃO, SUA NOTA DE EX SUPERARIA OS 9,600 COM TRANQUILIDADE.
      COMO DISSE ANTERIORMENTE, SEI QUE É PRECISO MUDAR O CÓDIGO, MAS SÓ ISSO NÃO SERÁ SUFICIENTE SE A VISÃO DOS JUÍSES SE MANTEM ANCORADA NESTAS INJUSTIÇAS.

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      1. concordo com vc anonimo, na verdade os juizes gostam de ginastas que arriscam, que mostam dificuldade, se essas ginastas conseguirem ir mais ou menos, eles jogam a nota delas lá pro alto!!! e as ginasta que arriscam pouco igual o brasil, são bem prejudicadas pois não arriscam!

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    3. e o código 2017-2020? kkkkk

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    4. uma boa noticia das categorias de base romenas - usando o bom senso, o faro e claro, a experiencia de quem esteve lá, Daniela Sofronie mostrou uma esquadra que espantou os juizes. Sofronie só tem 24 anos e prova que há vida além dos Bellu.
      No Massilia Open, a esquadra sueca bateu o time canadense capitaneado por Heaven Latimer que há uma semana limpou a banca em Combs-La-Ville. Detalhe - treinam com a nova sensação da ginástica de lá, Jonna Adlerteg, que esteve em Londres. Ah, se fosse assim no Brasil....

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      1. Não entendi nada!
        O que Daniela Sofronie e equipe sueca tem haver?
        E as categorias de base romenas?

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      2. Tem a haver que enquanto o time senior romeno está desmanchando feito leite Neston(Diana Chelaru que o diga), uma nova geração aos poucos vai consolidando times para 2016 e além. Não só na Romenia, mas em outros paises da Europa que nao tem tanta tradição em competições de ginástica. Melhor ainda - nao tem time imbativel. Um certame ganha o Canadá, outro a Suécia e vai por ai. Se no Brasil tivessemos essa mentalidade, tambem estariamos no páreo desde já e nao daqui a quatro anos.

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      3. Nenhuma romena junior tá tão boa quanto no passado não sei de que jeito vc quer que elas estejam competitivas1

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    5. No 36º Memorial Joaquin Blume, em Barcelona, a turma do idioma cirilico nao deixou pra ninguem - Oleg Vernaiev, no masculino e Anna Dementyeva no feminino conquistaram o certame. No masculino, em segundo, Daniel Purvis(Gra-Bretanha) e a prata da casa, Fabian Gonzalez em terceiro. No feminino, Giulia Steingruber da Suiça e a prata da casa Maria Paula Vargas fecharam o pódio. Próxima parada dessa turma - Stuttgart, no começo de dezembro.

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    6. Uma dúvida porque as notas em Beijing 2008 eram bem mais altas que as atuais e a execução do salto era bem mais alta?

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    7. Cecdrick vc como técnico e juiz vc poderia dizer qual o valor de dificuldade das séries da Catalina Ponor em Athenas 2004 que lhe deram suas medalhas de ouro (trave se solo) no código 2009-2012 e qual execução vc daria a elas?

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