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  • GBB em Tóquio: análise do 2o dia de competições




    O dia que decidiu os vencedores da etapa de Tóquio da Copa do Mundo de ginástica foi dominado por  ginastas que prometem ser as grandes estrelas de seus países neste novo cliclo olímpico. No masculino, Oleg Verniaiev da Ucrânica levou o título após completar três performances sólidas. Não mais apenas um ginasta de primorosa execução, agora também com dificuldade equiparada, seu potencial como All Arounder é notório. Se no feminino é difícil encontrarmos uma ginasta leve e ágil nas barras que seja explosiva no salto feminino, no masculino Oleg é um bom exemplo desta raridade, indo do brilhantismo no cavalo com alças e no salto à exuberância nas argolas. 
     
    Oleg Verniaiev competindo nas barras paralelas durante a etapa de Tóquio.
    Da esq. para a dir., Ryohei Kato (prata), Oleg Verniaiev (ouro) e
    Daniel Purvis (bronze) fizeram o pódio da etapa de Tóquio.

    O ucraniano foi seguido de perto pelo Japonês Ryohei Kato, o único outro ginasta a pontuar acima dos 90, o qual virou o centro das atenções da ginástica japonesa dado o ainda indefinido retorno de Kohei Uchimura. Ryohei, tal qual Oleg, será um dos ginastas a brigar pelo ouro do Individual Geral no mundial deste ano, bem como pelo título nas barras paralelas, sua especialidade. Curiosamente, faço esta afirmação baseado no que eles não fizeram, já que ambos, mesmo terminando em 1º e 2º respectivamente, tiveram problemas (Oleg sofreu uma queda no solo enquanto Ryohei acumulou 3 pontos em deduções neutras) o que significa que seus somatórios gerais ainda podem melhorar.

    Falando em possíveis medalhistas no mundial, o britânico Daniel Purvis, 3º colocado nesta etapa, segue incansável na busca pela perfeição. Esta afirmação não é em vão, sua abilidade de ser competitivo sem deixar de ser artístico é imediatamente apreciada pelo público. Não é coincidência que a maior nota de execução dada nesta etapa foi dele (9.575 no salto pelo seu Yurchenko com duas piruetas e meia). O lado artístico do esporte só tende a ganhar com atletas como Purvis subindo ao pódio, e Fabian Gonzalez da Espanha certamente é um exemplo disso. Fabian obteve o maior somatório de notas de execução nos seis aparelhos, mesmo possuindo o menor somatório de notas de dificuldade nos mesmos seis aparelhos entre todos os competidores. Se Fabian conseguir aumentar sua dificuldade sem comprometer sua brilhante execução, poderá surpreender aqueles que chegarão com favoritos ao mundial.

    O único representante brasileiro da competição, Sérgio Sasaki entrou o último dia de competições na 4ª posição e tinha chances reais de pódio, e apesar de ter feito uma competição sem quedas, apresentou séries com vários problemas de execução que resultaram na 5ª colocação final. A grande expectativa do dia era de maximizar sua pontuação no salto onde ele apresentou seu Dragulescu, o salto mais difícil desta etapa (D6.0). Apesar de ter cravado um belo salto no aquecimento minutos antes, seu salto de competição ficou aquém de seu potencial com uma chegada baixa e desequilibrada, deixando-o em último lugar neste aparelho. Deste ponto em diante, sabíamos que seria difícil para ele subir no ranking.

    Mais do que nunca sinto que o Brasil ainda não chegou ao ponto de saber trabalhar o código a favor dos atletas. Não adianta subir o valor de dificuldade das séries se o ginasta não conseguir executar essa dificuldade de maneira limpa e consistente. Se Fabian Gonzalez obteve a nota 14.600 nas barras paralelas com uma série partindo de 5.6, enquanto Sasaki obteve 14.525 com uma série de 6.2, significa que precisamos refletir melhor sobre a composição das séries em busca deste equilíbrio entre execução e dificuldade. Se por um lado Sasaki iniciou a competição com o 3º maior somatório de notas de dificuldade, ao final dela ele obteve o menor somatório de execução entre todos. Devemos também levar em consideração as recentes mudanças no código de pontuação, já que é preciso tempo para reformular as séries. Assim sendo, acredito que as duas etapas de copa do mundo que o brasileiro participou serviram para testar a avaliação dos juízes. A partir daí, acredito que mudanças devem ser feitas junto a comissão técnica para que nosso Sasaki venha a brilhar na Bélgica como acreditamos que ele seja capaz.

    Se a disputa no masculino aos poucos foi ficando menos intensa com as desistências de Danell Leyva (fortes dores no ombro esquerdo durante treino de pódio) e Kazuhito Tanaka (lesão no pé esquerdo após queda nas argolas no primeiro dia de competições), a batalha pelo pódio no feminino teve um pouco mais de emoção. A americana Peyton Ernst liderava a competição após o primeiro dia de competições, e durante sua série de trave parecia estar cementando sua vitória com uma série firme no melhor estilo USA até o seu duplo carpado de saída onde sofreu uma queda. Apesar das boas qualidades da ginasta, não a vejo por enquanto como uma ginasta relevante no competitivo cenário da ginástica artística feminina dos EUA.

    Asuka Teramoto durante exercício de solo em Tóquio

    Com a queda da americana, Asuka Teramoto do Japão assumiu a liderança e não deixou passar a chance de levar a vitória em casa, deixando pra trás a americana. Asuka foi um exemplo de consistência durante toda a competição, mas foi na trave, com sua tripla pirueta de saída (que levou Boginskaya e Chusovitina a aplaudirem efusivamente), e no solo, com uma expressiva e bem ritmada coreografia, que a japonesa se destacou por já apresentar ares de veterana do esporte mesmo aos 17 anos de idade. Além de todas essas qualidades, ao final da competição, Asuka educadamente aproximou-se da arquibancada e, fazendo a tradicional reverência japonesa ao abaixar a cabeça, agradeceu em voz alta ao público que tanto torcia por ela. Tem como não virar fã?

    Fechando o pódio tivemos a volta bem sucedida de Elsabeth Black do Canadá. Se durante o aquecimento ela parecia um pouco hesitante, durante as rotinas em todos os aparelhos ela se mostrou pronta e confiante para ajudar sua equipe a manter o sucesso das Olimpíadas. Ainda que tenha diminuído a dificuldade de seu salto (Reversão com uma pirueta ao invés do Rudi), sua potência continua a mesma. Pode ser uma boa estratégia para ela segurar um pouco a dificuldade no caminho para o mundial. Seus pais estavam sentados bem atrás de mim na arquibancada e estavam vivenciando cada movimento como se valesse um ouro olímpico. Ser parente de ginasta não deve ser nada fácil.

    As chinesas, antecipadas como talvez as grandes favoritas, voltaram a apresentar sua infame inconsistência. Nas barras, Shang Chunsong, que apresentou um movimento novo (um Hindorff carpado), foi impecável no aquecimento, porém acabou sofrendo queda na sua série de competição. Shang se redimiu na trave onde obteve a maior nota entre todas as competidoras (14.625) com uma série tipicamente chinesa, com vários saltos de alto grau de dificuldade e muitas ligações. Confesso que a posição e flexibilidade das pernas ao redor do joelho não me agradam muito especialmente pelo padrão chinês nesse quesito. Já Huang Qiushuang, que é a ginasta com maior reputação entre as participantes, ficou apenas na 5ª colocação em uma competição onde apresentou séries mais simples em todos os aparelhos, ao ponto de não ter preenchido um dos requisitos do solo e partir de 4.7, desperdiçando sua nota de execução que foi a maior do solo. Huang parecia em forma fisicamente, mas fora de ritmo de competição.

    O resultado desta etapa, ainda que distante do nível de um campeonato mundial, serviu como indicativo do ponto em que os ginastas de diferentes países estão em sua preparação. Todos estão cientes de que o ciclo olímpico já começou e cada um segue estratégias diferentes por viver momentos diferentes em suas carreiras. Por exemplo, enquanto as Juniors tentam um lugar ao sol em seu primeiro ano na categoria adulta, como é o caso de Charlie Fellows da Grã-Bretanha e Elisa Meneghini da Itália, as veteranas tentam se manter competitivas ao mesmo tempo que tentam se preservar. Porém, o sonho de estar em um palco olímpico, seja pela primeira vez ou seja por mais uma vez, faz parte do desejo de cada um deles. A nós, fãs, resta o apreço pelo esforço deles e a torcida para que todos consigam atingir seu potencial e fazer o seu melhor. Afinal, quem não quer ver o melhor da ginástica em solo verde e amarelo em 2016? 

    Resultado Final do Individual Geral Masculino:
    1. VERNIAIEV (UKR) 90.375
    2. KATO (JPN) 90.175
    3. PURVIS (GBR) 89.250
    4. GONZALEZ (ESP) 88.700
    5. SASAKI (BRA) 87.750
    6. NGUYEN (GER) 87.275
    7. TANAKA (JPN) 42.800
     


    Resultado Final do Individual Geral Feminino:
    1. TERAMOTO (JPN) 56.825
    2.
    ERNST (USA) 56.550
    3. BLACK (CAN) 55.900
    4. SHANG (CHN) 55.75
    5. HUANG (CHN) 55.225
    6. FELLOWS (GBR) 53.525
    7. MENEGHINI (ITA) 53.425
    8. MINOBE (JPN) 51.825


    Resultados Oficiais
    http://www.jpn-gym.or.jp/artistic/2013/result/pdf/13a_wct.pdf 

    Fotos de autoria de Akio Yamashita. 
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    7 comentários:

    1. Excelente post Igor !! Até teve um pouco de "filosofou" no final

      "[...]o sonho de estar em um palco olímpico, seja pela primeira vez ou seja por mais uma vez, faz parte do desejo de cada um deles. A nós, fãs, resta o apreço pelo esforço deles e a torcida para que todos consigam atingir seu potencial e fazer o seu melhor[...].


      Pra mim esta etapa foi apenas mais um sem grandes emoções, mostrando que o ano pós olímpico é complicado

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    2. Feliz pelos dois!! Asuka e Verniaiev! Acho que se a Asuka desse uma dificultada nas suas séries ela teria mais chances. E o Verniaiev nada a dizer sou fã dele, espero que ele fique em forma até 2016 =)

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    3. Fabiano Araújo09 abril, 2013 16:49

      Eu gostei muito desse resultado 'pouco convencional' dessa etapa, com a Ucrânia vencendo no masculino e o Japão no feminino.

      Eu concordo totalmente que o Brasil ainda sofre um sério problema com relação à adequação das séries ao CoP e mais importante ainda, aos ginastas! Isso é uma lacuna muito grave que acomete ambas as seleções (GAF e GAM). Será uma falha na formação dos técnicos? Uma má interpretação do código? Sinceramente, não entendo como não existe NENHUM triplo giro no solo feminino e as meninas contam com B's nas séries!! Espero que a CBG promova cada vez mais intercâmbios com outras seleções relevantes (que já não acontece há um bom tempo no feminino) e que essa situação se reverta, especialmente na formação da nova geração que certamente competirá em 2016.

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    4. Já saiu a lista de participantes do campeonato europeu, o time olímpico russo vai participar, menos a Komova

      http://www.gymnasticsresults.com/euro/2013/nomreg.pdf

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    5. Parabéns Cedrick, excelente post como sempre......

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    6. Adorei o post. Sasaki realmente precisa melhorar a execução, achei que ele teve chegadas sempre muito baixas.

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    7. Analisando a ginástica masculina, vemos que alguns Brasileiros repetem os erros dos americanos, ou seja series difíceis com erros de execução, e persistem nisso.

      Com o Zanetti a situação se faz bem diferente, ele só dificulta a serie quando tem condições de apresentá-la sem muitos erros.

      Disso tudo o que tiro é o seguinte, fico muito feliz por saber que os ginastas Brasileiros estão se jogando, evoluindo, alguns sendo mais prudentes, outros menos, de qualquer modo estão evoluindo e gosto disto.

      Quanto ao Sasaki, ele é um ginasta excepcional, não sei como conseguiu competir e ainda dificultando suas series com tudo o que vem passando, demissão, sem lugar para treinar. Então ele está de parabéns e prefiro analisá-lo melhor quando a situação dele estiver nas CNTP (condições normais de temperatura e pressão) rs

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