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  • Análise e Resultados da Copa do Mundo de Tóquio

    Kohei Uchimura segue seu reinado com mais uma brilhante atuação na etapa final da copa do mundo.
    Com algum atraso, mas faço questão de colocar a análise da etapa de Tóquio, já que muita coisa interessante aconteceu nessa competição.

    Análise do Masculino

    Uchimura segue mostrando seu domínio

    Kohei Uchimura sem dúvida mostrou que é o ginasta desta geração, e possivelmente a maior lenda da ginástica contemporânea. É muito interessante assistir o processo de preparação de atletas desse calibre. Enquanto todos executavam partes de suas séries, em total clima de aquecimento para a competição que começaria em alguns minutos, Uchimura, ainda com o casaco da seleção Japonesa, apenas caminhava pelas laterais do tablado de solo, aquecia punhos e calcanhares, fazia uma parada de mão, e logo em seguida sentava e olhava a sua volta por longos minutos. Kohei não é de muitas palavras, por assim dizer. Enquanto os demais atletas se socializavam nas rotações pelos aparelhos, com aplausos, apertos de mão, ou ajudando a preparar o aparelho para o seguinte, o maior campeão mundial de todos os tempos parecia buscar se isolar. Sempre caminhando na direção de um aparelho, ou um canto onde ninguém mais estivesse. Seria curioso perguntar pra ele o que se passa em seus pensamentos, e como esse processo o ajuda a fazer uma competição quase perfeita, onde todos as pequenas imprecisões não comprometem o deslumbre de sua performance. A reputação de campeão incontestável é, a meu ver, o ponto mais impressionante de sua carreira até o momento. Não são apenas vitórias, são demonstrações de domínio absoluto do esporte, em sua complexidade física e artística. Fica a curiosidade de saber quem será o primeiro ginasta a vencer o Uchimura em campeonato mundial ou Olimpíada. Quem quer que seja, será lembrado por este feito muito mais do que pelo título.


    Hambuechen, se todos fossem (na ginástica) iguais a você

    O alemão Fabian Hambuechen tem uma presença muito carismática na arena de competição. Se alguém colocasse uma câmera nele durante a competição, a ginástica teria uma imagem muito menos estóica, e muito mais de camaradagem entre os atletas. Ele torce, cumprimenta de verdade, e ajuda seus adversários a todo momento. Ele dá show no melhor estilo Alexei Nemov durante a competição, especialmente na barra fixa, mas ao invés do showman russo, ele segue o espetáculo da boa disposição nos entremeios, como os constantes acenos à torcida do clube de Uchimura (Konami) onde ele treinou por um período em anos anteriores. Sua execução e controle são espetaculares, mas contra o Uchimura ele continua o infortúnio alemão iniciado por Phillip Boy de segundo lugar do Japonês. Essa competitividade saudável se mostrava em curtas conversas entre Fabian e Kohei, em que ambos davam risadas, talvez por não se entenderem, ou quem sabe por se entenderem muito bem. A curiosidade sobre o teor das conversas permeava a mente da torcida quando apareciam no telão. Nesta competição, a prova de cavalo com alças e salto de Hambuechen comprometeram seu resultado final, com um distante segundo lugar, que poderia ter sido de Ryohei Kato, não fosse sua queda na barra fixa. Performance e resultado a parte, como não torcer pelo cara mais boa gente da escola?

    Sasaki e seu Grand Slam 

    Sérgio Sasaki já pode ser considerado como o melhor all arounder que o Brasil já produziu no masculino. Suas posições finais nas Olimpíadas de Londres em 2012 (#10) e no mundial da Antuérpia em 2013 (#5) são provas irrefutáveis de sua contínua escalada no difícil ranking da ginástica masculina mundial. Em Tóquio, Sasaki terminou em #4, atrás apenas da elite absoluta do esporte na atualidade. Com esta colocação, nosso atleta nipo-brasileiro alcança excelentes resultados no AA nas três principais competições da ginástica. Um Grand Slam de conquistas que deve ser comemorado, e que deveria gerar mais investimento e interesse do que lhe é oferecido hoje.

    O futuro do atleta é promissor, não fosse o desinteresse de clubes e patrocinadores, especialmente quando existem pontos notórios a serem aprimorados. Se eu pudesse focar em um ponto apenas para melhorar sua execução, seria em manter suas pernas unidas. Tanto no cavalo com alças, como nas barras paralelas e barra fixa, esse problema é bem evidente, e tira um pouco o brilho de suas séries. Além disso, apesar de seu porte físico, ao chegar na barra fixa, ao final da competição, seu cansaço é evidente. Acredito na preparação que está sendo feita para que ele atinja seu potencial máximo em frente a torcida brasileira em 2016.

    Talento vs. Consistência

    Daniel Purvis e Sam Oldham mostraram toda a plasticidade que está virando uma marca da ginástica britânica contemporânea, porém com falhas em diversos aparelhos. Mais notavelmente, Purvis sofreu uma queda no seu Shewfelt (Yurchenko com 2 1/2) enquanto Oldham caiu de maneira perigosa (fazendo compressão nos joelhos ainda rodando) em seu Tsukahara com 2 1/2. Erros que demonstram talvez em que estágio eles estão em sua preparação para a temporada. Com o campeonato europeu no mês que vem, ambos devem estar mais do que motivados para manter a ascenção de seu país como nova potência do esporte.

    As performances sem inspiração dos ingleses foram "superadas" apenas pelo chinês Zhou Shixiong, que teve um dia "daqueles". O atual décimo melhor no AA do último mundial sofreu duas quedas no solo, fez um salto partindo de 5.2 apenas e teve um grande passo na chegada, fez uma prova no cavalo muito abaixo da tradição chinesa no aparelho, e teve falhas graves na barra fixa que é seu melhor aparelho (no Olympic Trials para as Olimpíadas de Londres, ele partia de 7.0). Apesar da excelente performance da equipe chinesa nas últimas Olimpíadas, a China tem se mostrado menos imponente no AA desde a aposentadoria de Yang Wei em 2008. Em Londres, a China não teve nenhum representante na final do AA, e as posições nos mundiais tem colocado um ponto de interrogação na supremacia do país nesta categoria. Vamos ver o que a China prepara nos próximos anos.

    Fabian Gonzalez segue com sua estratégia de provas sem grandes dificuldades, mas bem executadas, deixando-o sempre dependente de erros dos adversários para que tenha chance de pódio. É um ginasta com boa técnica e carismático com o público que está a algum tempo sem dificultar suas séries. Fica a dúvida do porquê.

    Ryohei Kato é mais um grande talento da forte equipe Japonesa que além de incluir a lenda Uchimura, também conta o raro talento de Kenzo Shirai. Um ginasta competente, atual vice-campeão mundial, que está construindo sua história a cada subida no pódio. Um ginasta que, apesar da queda na barra fixa, tem como característica a consistência. Suas rotinas de competição já são desenhadas para brigar pelo ouro, e no caminho para o mundial deste ano, a tendência é apenas melhorar.


    Vanessa Ferrari mostrando que continua firme e forte no AA.

    Análise do Feminino

    Ferrari continua acelerando

    Vanessa Ferrari não conquistava um título no AA em uma competição internacional de peso desde de 2007 quando se sagrou campeã européia. Sete anos depois, esta vitória certamente tem um gosto especial e deve lhe dar um merecido boost em confiança para a temporada. A sua determinação no esporte tem tomado nova dimensão desde 2011 quando retomou sua boa forma para as competições. Talvez aquela quase medalha olímpica no solo em Londres tenha lhe dado uma nova vida, quando todos pensavam que ela se aposentaria. Nessa etapa, sua performance foi deslumbrante simplesmente pela exibição de seu desejo em se manter competitiva. Arriscou no salto com seu Yurchenko com 1 1/2, quando no aquecimento parecia não ter gás nem para o Yurchenko com uma pirueta apenas. Arriscou no solo com a estréia de um duplo esticado. Sua trave continua sendo uma das mais seguras do mundo, ainda que não seja a mais limpa ou difícil. Ver uma ginasta veterana atingir novos ápices em competições depois de muito tempo (sua prata no solo no mundial do ano passado, por exemplo) tem um sentimento especial para os fãs do esporte. Longevidade na ginástica por si só é motivo para aplausos.

    Supremacia americana é para poucos

    A americana Maggie Nichols, apesar da boa competição (medalha de bronze nesta etapa), não é uma ginasta pronta para compor a principal equipe dos EUA. Tem boas dificuldades, mas ficaria aquém de muitas de suas compatriotas, e sua execução ainda deixa muito a desejar especialmente nos elementos de dança no solo e na trave. Durante o aquecimento, fez passagens muito seguras nas assimétricas, porém teve problemas durante a série de competição. Sem a consistência que é marca da ginástica americana, acredito que essa ainda não seja a temporada dela. Fica a expectativa de saber como ela irá se desenvolver ao longos dos anos.

    Roxana Popa, a promessa espanhola

    A boa surpresa da competição é espanhola, mas nascida na cidade de onde vieram Simona Amanar e Catalina Ponor. A romena-espanhola Roxana Popa continua mostrando sua evolução. Após vencer o Mexico Open 2013 em dezembro passado, sua preparação para o campeonato europeu parece estar indo muito bem. Uma ginasta, que aparenta ser do tipo "boa de salto e solo", tem um estilo forte e uma execução que na minha opinião ainda não é devidamente recompensada. Popa não só sobrou com seu Yurchenko com dupla e fez um solo arrasador ao som de tico-tico no fubá com duplo esticado e dois tempos com tsukahara grupado, como também fez uma ótima série de barras que apesar de um erro, ficou com 14.366, e passou muito segura na trave até o seu momento Gabby Douglas no campeonato americano de 2011. A impressão que ficou todavia é de uma ginasta que já se mostra competitiva e que está nitidamente melhorando a cada competição. Acredito que ela possa brigar pelo top 5 no próximo mundial.

    Tenacidade, uma qualidade

    Quando o atleta está em um dia onde tudo parece ir contra, ele tem duas opções: brigar até o final ou admitir a derrota. Na ginástica, essa máxima pode se traduzir em manter a dificuldade das séries até o final ou reduzí-la em virtude das circunstância.

    Depois de ver Kim Bui quase se acidentar no salto ao deslizar a mão na reversão mortal carpado com meia volta, de quase bater na barra na sua saída nas assimétricas, seu melhor aparelho, e e sofrer uma queda na trave, a alemã manteve a compostura para fazer o 4o melhor solo do dia.

    Outra prova de que não desistir nunca não é exclusividade dos brasileiros, Victoria Moors teve falhas nas barras (um pak meio grupado que resultou na perda do swing e o arrasto dos pés no chão), e desequilíbrios grandes na trave (segurou a trave para não cair), ela deu tudo de si no solo com seu duplo com dupla esticado e excelente coreografia para bater Ferrari no solo com 14.633 (nota que a empataria com Ferrari pela prata no mundial do ano passado). A frustração de Moors era evidente ao final da competição já que, mesmo depois de seus erros, ela terminou em #4 apenas meia ponto atrás da campeã. Torço para que ela se mantenha saudável e consiga sua merecida medalha no solo no mundial de Nanning este ano.

    As Japonesas tem um longo caminho em sua renovação. Yu Minobe foi adicionada meio que no último minuto para substituir Carlota Ferlito. Uma ginasta já veterana que ainda compõe a equipe japonesa para eventos como o Asian Games e o Universiade, mas que não representa o que o país tem de melhor. Asuka Teramoto é o nome mais forte atualmente, porém suas séries dificilmente a permitirão conquistar uma medalha no AA. Particularmente, gosto de seu estilo, tem uma execução bonita dos elementos em todos os aparelhos. Porém, nesta etapa, seu preparo não pareceu ideal. Seu salto ainda é fraco, sofreu uma queda na saída das assimétricas, mas pesistiu até o final com uma bela trave e um solo seguro.

    Resultados Completos do Masculino

    Resultados Completos do Feminino

    Esta etapa, como foi a última da série de competições da copa do mundo, também determinou os campeões da temporada: Elizabeth Price (EUA) no feminino e Daniel Purvis (GBR) empatado com Fabian Hambuechen (GER) no masculino.

    Fonte das fotos: http://www.jpn-gym.or.jp/artistic
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    2 comentários:

    1. Vanessa Ferrari é uma ginasta muito determinada,e sempre evoluindo como pode, sem medo das concorrentes sejam americanas,russas ou romenas, só isso já merece aplauso.

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    2. Vanessa ta evoluindo cada vez mais no solo, ta ficando imparavel!!!
      no mundial ctz sera favorita a medalha

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