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  • Como fica o Brasil sem Alexandrov?


    O ciclo olímpico terminou e, com ele, o contrato do treinador chefe da seleção feminina. O russo Alexander Alexandrov executou um bom trabalho com a Confederação Brasileira de Ginástica e com o Comitê Olímpico Brasileiro (classificar a equipe feminina para os Jogos do Rio); agora, se despede do Brasil com o dever cumprido. Ou não.

    Como tudo no Brasil, sua contratação foi feita às pressas e bem em cima da hora. Só na metade de 2013 que Alexandrov começou a trabalhar no país, apenas três anos antes dos Jogos Olímpicos. Isso na cidade de Três Rios, num ginásio "improvisado" tratando-se de treinos de uma seleção de alto rendimento.

    Os Jogos do Rio terminaram e a seleção feminina ainda não conquistou sua primeira medalha olímpica. Fica uma questão: qual o conhecimento deixado com a estadia de Alexandrov no Brasil? Qual o legado dos Jogos Olímpicos para a ginástica do nosso país?

    Mais uma vez uma situação desesperadora teve que ser desesperadoramente remediada. Mas as causas do desespero provavelmente ainda continuam no Brasil. O que Alexandrov fez, falando de trabalho técnico, foi excelente, mas se tratando de montagem de séries, bastava abrir o código de pontuação da ginástica, disponível gratuitamente no site da FIG, para vários problemas serem resolvidos; isso desde 2008, quando Oleg Ostapenko deixou o Brasil pela primeira vez.

    Alexandrov vai embora e pouquíssimos treinadores tiveram acesso a ele. Apenas alguns tiveram a oportunidade de vivenciar e aprender toda a experiência e técnica desse grande treinador. E isso muito por conta da pressa em ter que resolver tantos problemas em apenas três anos. Não houve tempo para os prometidos "camps" e troca de informações, mas, mesmo se houvesse mais tempo, realmente teriam feito isso? A culpa foi do tempo apertado ou da direção que não proporcionou esses momentos para todos os treinadores interessados?

    Essa dúvida só não é maior do que a que permeia esse texto. A ginástica feminina brasileira, depois da despedida de mais um treinador milagroso, pode estar, mais uma vez, correndo sérios riscos de beirar o fracasso. Principalmente porque pouquíssimos treinadores foram abençoados com os "milagres" de Alexandrov.

    A partir de agora, e de acordo com toda as situações antigas e recorrentes, o esperado é: vamos voltar a cometer os mesmos erros. Mesmo direcionamento, mesmo pensamento e poucas pessoas capacitadas. Até o próximo treinador chegar, quando tudo estiver um caos, e trancar 12 ginastas e 3 treinadores num centro de treinamento, dando o seu máximo para fazer um trabalho de 3 ciclos em 3 anos.

    Se a ginástica do Brasil não for avaliada e profundamente estudada, nunca vamos sair dessa. Entra treinador, sai treinador; entra investimento, sai investimento. E assim continuamos, buscando uma medalha que nunca vem, estagnados. A ginástica feminina precisa urgente de uma identidade própria, algo que realmente funcione e se estabilize, como a ginástica masculina fez. E assim, a contratação de um treinador estrangeiro viria para somar a um sistema bem estruturado, e não para atender aos pedidos devotos de COB e CBG.

    Ciclo 2016-2020: boa sorte, Brasil!

    Texto de Cedrick Willian

    Foto: Thomas Schreyer
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    6 comentários:

    1. belissima postagem e concordo em tudo. Nossos talentos atuais serao perdidos? Fica a duvida

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    2. Este é um problema recorrente da CBG desde sua fundação no ides dos anos 80. O sistema coronelista do voto de cabrecho e por trocas de favores com presidentes de federaçoes estaduais extremamente desqualificados, colocados por treinadores ainda piores que seus presidentes ajudam a manter este sistema autofágico da CBG repetindo o mesmo Plano por décadas, que a história já enfadada de citar já escreveu que nessa Perspectiva Não chegará a lugar nenhum. Sempre as mesmas pessoas insistindo no erro de centralizar o poder do conhecimento (coronelismo intelectual), na mesma região e nos mesmos locais, imviabilizando qualquer possibilidade de desenvolvimento do Esporte. Contra a história Não tem contrário e os resultados apesar de terem sidos bem expressivos nos ultimos anos o Brasil é efêmero na Ginástica mundial.

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    3. CBG e COB sempre fazendo cagada grande novidade hahahhaaha

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    4. https://www.youtube.com/watch?v=1NaDXybkSFs

      Que ESPETÁCULO!!!!!!!!!!!!

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    5. Excelente texto. Por causa da má gestão, atletas fabulosas como Daiane dos Santos, Daniele Hipólito e Jade Barbosa não conquistaram medalhas Olímpicas. A Jade era minha maior expectativa para trazer medalhas ao Brasil. Ela tinha potencial e uma execução belíssima. Mas o Brasil a desperdiçou. Agora ela dificilmente nos trará medalhas, porque sofreu uma lesão na perna e após a recuperação voltou pior.
      Agora temos a Flavia e a Rebeca, que podem sim nos trazer medalhas. Mas será que as perderemos também? Eu acredito que o Brasil tem sim potencial para subir ao pódio muitas vezes nestas competições, mas muito ainda há que mudar para que isto ocorra efetivamente....

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    6. Cedrick. Adorei seu texto. Foi excelente, na medida e no ponto.

      O que acha de fazer um post com proposições para a CBG. Mesmo que ela não escute, acho importante ter um movimento da sociedade civil e dos fans de ginástica. Tipo uma carta manifesto dos fans. Rs. Acho que mesmo que nada se modifique, pelo menos faremos pressão e colocaremos o assunto nas discussões. O que acha? Posso participar e ajudar se quiser.

      Felipe Peixoto

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