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  • Com Marcos Goto, ginástica feminina tem a chance de se reinventar


    Desde o fim dos Jogos Olímpicos do Rio, a ginástica feminina do Brasil tem passado por momentos complicados. Sim, nas classificatórias olímpicas a seleção feminina fez uma excelente competição, mas nas finais terminaram sem a tão sonhada medalha olímpica como também sem superar os melhores resultados do Brasil em uma edição dos Jogos. Desde então, queda nos investimentos e a partida de bons treinadores deixaram o futuro incerto.

    Finalizado os Jogos - e depois de um investimento nunca visto na história da ginástica do país -, fomos obrigados a ver Alexander Alexandrov se despedir do Brasil. Até aí tudo bem, pensando que ficaríamos com os treinadores que mais tiveram acesso aos ensinamentos dele (restrito apenas a alguns), mas o que aconteceu foi que esses treinadores também foram embora, deixando a chama da esperança ainda menor.

    Idealizando sobre a nova direção, é necessário falar sobre os treinadores que deixaram o país - principalmente Alexandre Cuia, Keli Kitaura, Ricardo Pereira -, assunto amplamente questionado e que divide ideias entre muitos do meio da ginástica. Alguns acham um absurdo o que aconteceu; outros, nem tanto. Fato é que, se foram embora, é porque as coisas aqui não iam bem. Se a oferta fosse boa, se o futuro parecesse próspero, por que desejariam abandonar todo o trabalho feito? O questionamento é maior e aponta um pouco mais de desespero na situação: se Alexandre Cuia, ex-treinador da Flávia Saraiva, finalista olímpica de trave, preferiu deixá-la e procurar novos rumos fora do país, qual a perspectiva dos treinadores que estão começando a carreira agora? Já pensou que existem vários estudantes de Educação Física, ex-atletas ou não, que sonham com uma carreira profissional como técnico de ginástica e, logo após os Jogo Olímpicos, enxergam uma situação dessas?

    Não dá para julgar o que aconteceu. Ninguém além dos treinadores, atletas e comissão técnica, estava realmente a par de toda a situação que envolveu a ginástica nos últimos anos para dar uma opinião concreta sobre isso. Mas, analisando com a razão, quem continua no mesmo emprego quando está infeliz? Quem nesse mundo recusa uma oferta de emprego quando ela é muito melhor? Já parou para pensar que a Keli treinou a Rebeca Andrade desde os 6 anos de idade e quando Rebeca chegou nos Jogos Olímpicos, o momento mais sonhado pelas duas, a treinadora não teve a chance de estar com ela na arena? É triste ver todos esses bons treinadores que aprenderam tanto com Alexandrov indo embora, mas não é algo incompreensível. Se há um culpado por essa situação, esse culpado se chama "má administração". Foi ela a responsável por não oferecer condições atrativas, sejam de trabalho, financeiras ou de infra-estrutura, para que esses treinadores continuassem por aqui.

    A ginástica feminina ainda vive da glória de Luisa Parente (que até hoje não teve seus ouros pan-americanos superados), Daniele Hypólito, Daiane dos Santos e Jade Barbosa. Entra investimento, sai investimento, e só conseguimos mais do mesmo. Sempre mais do mesmo. Um trabalho a longo prazo nunca é priorizado e toda vez que um ciclo olímpico termina bate um desespero e os questionamentos começam: quem vai continuar? Quem não vai? Onde está a nova safra de atletas e treinadores?

    Nesse sentido, a administração todas as vezes deixou a desejar.. Com técnica extremamente apurada (direcionada por Ostapenko e Alexandrov) e método de treinamento antigo e defasado, a ginástica feminina do Brasil a cada ciclo sobrevive com ginastas cansadas, lesionadas, com treinos excessivos e pouquíssimo descanso. Agora, aparentemente, as coisas parecem caminhar para um sentido de mudança. É impossível definir, nesse momento, se a mudança será boa ou ruim, mas continuar do jeito que estava é insistir no erro por mais quatro anos.

    Enquanto a ginástica feminina ainda aguarda sua primeira medalha olímpica (sem esquecer de valorizar as conquistas da Flávia nos Jogos Olímpicos da Juventude), a ginástica masculina já possui quatro. É um resultado discrepante se comparado à ginástica feminina, que já consegue competir com equipe completa em todos os Mundiais e Jogos Olímpicos desde 2001. A seleção masculina só conseguiu competir com equipe completa nos Jogos em 2016! Nada mais inteligente, nesse momento de crise, do que começar a analisar o sucesso da ginástica masculina e testar novos caminhos. Não dá pra engolir mais os métodos arcaicos e de sucesso a curtíssimo prazo que direciona a ginástica feminina desde sempre.

    Dessa forma, Marcos Goto assume a direção da ginástica masculina e da ginástica feminina. Pode ser que daqui quatro anos todos percebam que, talvez, o melhor seria que tudo continuasse como estava, que aquilo mesmo era o melhor que o Brasil poderia ser. Entretanto, com tantos talentos promissores que já vimos o nosso país ter capacidade de produzir e nunca "chegar lá", testar novas formas e possibilidades é o mínimo que deveria ser feito. Essa é a chance que a ginástica feminina tem de se reinventar, algo que deu muito certo, por exemplo, no Japão.

    Nesse momento, uma ponta de esperança no futuro aparece. Não de um futuro a curto prazo - com mais um treinador de altíssimo nível encabeçando a seleção e a promessa de medalhas em Tóquio -, e sim de um futuro que coloque o Brasil no topo para que nunca mais saia, mesmo que o caminho seja mais difícil e demorado. Esse parece ser o destino da seleção masculina e o profundo desejo dos que também admiram a seleção feminina.

    Boa sorte Marcos Goto. Temos fé e esperança na mudança, assim como num trabalho bem direcionado.

    Post de Cedrick Willian

    Foto: Ivan Ferreira / Melogym / Gym Blog Brazil
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    7 comentários:

    1. eu até entendo um pouco o lado dos treinadores, mas eles também foram meio egoístas em deixar as meninas, a Keli treinava as meninas do flamengo a anos, e o Cuia com a Flavinha era a relação mais linda que eu já vi, a segurança que ele transmitia antes e depois das provas era tudo, imagina como essas meninas estão agora sem a referência que eles eram pra elas

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    2. Eita, com quem a Saraiva está treinando? Via muitas esperanças nesse mundial no Canadá, mas essa informação de que ela e a Rebeca mudaram de técnicos me preocupou um pouquinho, rs.

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    3. Cedrick, seu blog é sensacional e seus textos são muito bem escritos! Obrigado por trazer informação de qualidade e reflexões para os fans da ginástica, e espero que possamos contar contigo ainda por muito tempo! =D

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    4. Não sei se funciona no feminino. Mas o Marcos Goto funcionou muito bem no masculino: trouxe, em duas edições de Jogos Olímpicos, 1 ouro e 2 pratas. Isso porque em 2016, sem treinador, Diego treinou junto ao Zanetti. E ambos conquistaram prata.
      E você mencionou o Pan. Vale lembrar que desde 1999o feminino compete no Pan, mas só tiveram uma medalha de ouro, dá Jade, em 2007. Enquanto isso, só o Diego já conquistou 5 de ouro.
      É discrepante as diferenças entre masculino/feminino no Brasil. Chega a ser humilhante

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    5. Cedric, desculpa a pergunta. Sabe dizer para onde foram a Keli, o Alexandre e o Ricardo? Procurei, mas não encontrei.

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    6. por onde anda vitoria custodio ginasta juvenil

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