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  • O peso da bandeira romena


    Tradicionalmente, o Campeonato Europeu de Ginástica Artística é um dos campeonatos mais importantes do mundo. Fora os títulos mundiais e olímpicos, conquistar um título europeu talvez seja o ponto alto da carreira de um atleta, isso porque o berço da ginástica mundial está ali. Todos os outros países - e fãs de ginástica do mundo inteiro - sonham com campeonatos tão importantes assim regendo as demais ginásticas continentais.

    E para um atleta que já possui um título e medalha olímpica? Qual o valor de um título europeu? Competindo em casa no último fim de semana, vimos dois atletas romenos e medalhistas olímpicos se emocionarem com seus títulos europeus. Sob os olhares do mundo, e debaixo de muita pressão, Catalina Ponor e Marian Dragulescu competiram as finais sabendo que a responsabilidade, dessa vez, era maior do que nunca sentiram antes.

    Tanto Ponor como Dragulescu foram treinados para terem o auge de suas carreiras nos Jogos Olímpicos de Atenas, e o plano deu certo: conquistaram suas medalhas, mantiveram a tradição romena e voltaram pra casa satisfeitos e prontos para anunciarem suas aposentadorias em breve; afinal, tinham cumprido seus papéis com o país de Nadia Comaneci, tendo seus desempenhos completamente dentro do esperado.

    Agora, mais uma vez, ambos estão de volta, dando o sangue para conquistar um título continental. Fazendo o máximo para manter o resto da chama e tradição romena na ginástica artística. E a responsabilidade vai além de manter a tradição esportiva: Ponor e Dragulescu estão lutando para manter a ginástica romena viva. Um dos esportes que mais colaborava com o quadro de medalhas olímpicas da Romênia esteve, pela primeira vez na história, sem uma equipe completa numa edição dos Jogos Olímpicos. E sem nenhuma medalha.

    Tiveram coragem de voltar. Mesmo com corpos mais velhos, mesmo sendo treinados para outro código de pontuação, resolveram que era possível competir em alto nível novamente para ajudar o país. Assistidos pelos seus ex-colegas de equipe, pelas outras seleções, patrocinadores e da própria Nadia Comaneci, choraram com a conquista de um título europeu. Se no passado esse título poderia ser uma obrigação fácil de cumprir, atualmente nunca pareceu tão difícil e importante.

    Talvez tenham se emocionado mais com essas medalhas do que com as medalhas olímpicas. Conseguiram transmitir a paixão e amor pela ginástica para os fãs do mundo inteiro. Foi impossível não se emocionar com eles, uma daquelas coisas que só quem é fã de ginástica entende. E, como fãs de ginástica que somos, torcemos para que eles continuem, mas mais importante ainda seria torcer para que eles consigam uma aposentadoria segura.

    A crise atual na ginástica romena nos faz desejar que o país volte a ter os seus dias de glória sem depender dos seus antigos heróis. Nos faz querer que apareçam outros "Dragulescus" e "Ponores", capazes de representar o país tão bem quanto eles, sob o olhar mais cuidadoso e atencioso da direção da ginástica romena. Enquanto isso não acontece, continuamos a nos emocionar e torcer para que Ponor e Dragulescu prossigam, mesmo que seja difícil carregar o peso da bandeira romena.

    Catalina Ponor e Marian Dragulescu, campeões europeus de trave e solo.





    Post de Cedrick Willian
    Foto: Ivan Ferreira / Melogym / Gym Blog Brazil
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    4 comentários:

    1. A Catalina Ponor deixou um grande exemplo para a humanidade: parar de dar ouvidos as pessoas e seguir em frente. Fico imaginando o que pode levar uma atleta rica e reconhecida mundialmente se entregar a uma jornada duvidosa e incerta como o retorno a ginástica com 30 anos de idade nas costas, é necessário? NÃO, mas ela não se importa com o que as pessoas vão dizer, a Ponor é do tipo que "vale o que eu vivi e não o que pensam de mim". Foi inesquecível a apresentação dessa romena e o desmonte dela na trave de equilíbrio foi fenomenal. Obrigado Ponor!

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    2. A matéria não falou mas a Catalina Ponor foi ouro na trave de equilíbrio e venceu a sanne wevers.

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      1. Eu não diria que venceu a Wevers, mas que a segunda não conseguiu dar o seu melhor, porque a sua série é mortalmente dependente das conexões que realiza, e como ela não conseguiu conectar todas elas, então pesou no final.

        Agora, estou com a pulga atrás da orelha em alguns resultados. Amo de paixão a Thorsdottir mas achei que ela foi pontuada demais na final do solo, levando-se em conta que saiu fora do solo em sua acrobacia mais difícil. Achei a final do salto péssima, sinceramente não achei justo que a francesinha tivesse ganhado o ouro, que saltos bobinhos, sei lá, entendo pouco ou nada na parte técnica... Impressionante a quase ressurreição da Melnikova, de desastre absoluto em suas primeiras apresentações nas etapas de copa do mundo + a des-classificatória no individual geral, para o ouro merecido no solo. Pena também pela Iordache, espero que consiga resultados nas próximas competições mais expressivas.

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    3. ''pela primeira vez na história''

      Sério*

      Eu sempre achei que a Romênia começou a estourar com a Comaneci e cia, e que antes não era de grande expressão nesse esporte.

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