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  • Finalmente um pouco de transparência


    Em outro texto já foi apresentado o novo formato de avaliação da seleção brasileira, mas o fato de ter acontecido uma avaliação inédita é memorável e marca um novo começo para a ginástica artística do Brasil. Aberta ao público, que pôde acompanhar, filmar e torcer pelos ginastas, uma avaliação com métodos claros e transparentes foi utilizada para selecionar os ginastas que competirão no Pan de Especialistas, que acontece em agosto.

    Sem a presença dos grandes nomes que competiram nos Jogos do Rio (apenas Flávia Saraiva e Daniele Hypólito participaram da avaliação), as quatro vagas femininas estavam em aberto. Também sem a presença de Sasaki, Nory ou Diego, apenas Arthur Zanetti e Francisco Barreto participaram da avaliação masculina, que tinha seis vagas em aberto. Era necessário conseguir uma pontuação mínima para integrar a seleção que competiria no Pan.

    Foi a chance de grandes ginastas, por vezes sem oportunidades, conseguirem apresentar o seu melhor e ser recompensado por isso. O resultado ainda não foi o desejado; a equipe feminina ficou incompleta (apenas Flávia Saraiva e Carolyne Pedro conseguiram ocupar duas das quatro vagas disponíveis), mas o que se viu foi, principalmente pensando em um ano pós-olímpico, uma boa evolução nas séries. Atletas que, com vaga "garantida", fariam séries simples e sem grande expressão, arriscaram seus elementos mais difíceis, mostrando uma real possibilidade de notas de partidas competitivas e chances de medalhas. A equipe masculina também ficou incompleta: quatro das seis vagas foram ocupadas (Péricles Silva, Jared Azarini, Caio Souza e Arthur Zanetti).

    Sob a pressão de um público torcedor, alguns atletas crescem. Outros, nem tanto. Fato é que numa competição oficial, o acesso ao público, na maioria das vezes, nunca é limitado como numa competição interna. Na verdade, as arquibancadas cheias são o sonho de qualquer organizador de um evento competitivo. O novo método, aberto ao público, aproxima ainda mais a realidade da avaliação com a realidade da competição. É muito diferente fazer uma avaliação fechada, somente com os colegas de equipe, treinadores e árbitros, do que uma avaliação em formato de competição aberta ao público.

    Nesse caso, a oportunidade é dada para todos de forma igualitária, incluindo o público, fã de ginástica, que agora está muito mais empolgado com a possibilidade de assistir e torcer por ginastas que acreditam ter potencial de integrar a seleção, e por muitas vezes não tiverem uma única oportunidade. É bem provável que mais e a mais pessoas se interessem por assistir essas avaliações seletivas, que poderá ser ainda mais emocionante do que uma competição oficial.

    Falando da GAM, a avaliação e integração na seleção por merecimento já eram utilizadas em competições internas. A única diferença foi que agora os ginastas estão sendo avaliados frente ao público. Já na GAF, tanto a avaliação quanto a abertura ao público são novidades. Isso dá, pela primeira vez, oportunidades para atletas como Gleyce Rodrigues e Amanda Paulino, de clubes bem menos tradicionais e fora dos que integraram a seleção no passado.

    Esse formato é amplamente usado há vários anos nos Estados Unidos. E os eventos são de público enorme e importantíssimos! No ano olímpico, um evento ainda maior é feito com relação aos anos anteriores: a Federação Americana de Ginástica (e também a de outros esportes) realiza o USA Olympic Team Trials, aberto ao público, onde promete, no fim da competição, anunciar os nomes dos integrantes da seleção olímpica. Os métodos de avaliação também são claros, e os dois primeiros "all-arounders" sempre são presença confirmada na equipe.

    Essa pode ser a chance até da Confederação Brasileira de Ginástica angariar fundos, fazendo eventos grandes e cada vez mais importantes, televisionados, atraindo patrocinadores e público para arena. Seria um sonho? Sim, seria. No entanto, um bom começo está sendo feito. Um pequeno passo para uma grande mudança. Os fãs e torcedores agora torcem não só pela ginástica: torcem também pela evolução nos eventos e ainda mais transparência nas avaliações. Próxima avaliação: Campeonato Brasileiro, de 03 a 06 de agosto.

    Post de Cedrick Willian
    Foto: Ivan Ferreira / Melogym / Gym Blog Brazil
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    2 comentários:

    1. É importante ressaltar que essa mudança de método demora certo tempo pra surtir efeito. Espero que não, mas talvez a equipe feminina não tenha um desempenho superior nesse ciclo. Porém temos que dar longevidade para nossos atletas e um preço deve ser pago por isso.
      A equipe masculina fez um trabalho silencioso nesse sentido. Deu prioridade para que os atletas treinassem em seus clubes. Demorou para o resultado aparecer, mas nas olimpíadas no Rio todos os componentes da equipe conseguiram pelo menos uma final individual (o que é invejável pra qualquer equipe) e as três medalhas conquistadas vieram para coroar essa estratégia adotada.
      Espero muito ver ginastas fora do eixo Curitiba-Rio-São Paulo se destacarem e por que não que nosso país seja um celeiro de técnicos inovadores, felizes com seu trabalho.
      Não temos o direito de desmerecer o trabalho de ninguém feito até aqui, pois os resultados que tivemos até hoje foi fruto de muito sacrifício realizado em tempos que a ginástica era desconhecida no país.
      Todavia, há de reconhecer que Marcos Goto veio pra inaugurar uma nova fase no esporte.
      Se os atletas levarão tempo para se adaptarem a essa nova fase? sem dúvida! Mas é melhor que o remédio amargo seja ministrado agora do que o esporte ficar na ''mesmice'' de sempre.
      Parabéns pela coragem de sempre, equipe GBB de promover a crítica construtiva. Nós, fãs, desse esporte temos muito a aprender a analisar os fatos antes de falar asneiras na internet, e vocês ajudam nos ajudam nesse sentido.
      Lucas

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    2. Valeu Lucas! Momentos reflexivos e críticas construtivas são sempre bem-vindas. Adorei seu comentário e concordo em 100%. Comente mais!

      Abraço

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