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  • Uma seleção confiante brilha na Alemanha


    A seleção feminina brilhou mais uma vez no cenário internacional, dessa vez contando com Rebeca Andrade recuperada e mostrando um pouco do que seu enorme talento pode fazer. Individualmente, Rebeca mostrou que, se existe uma ginasta que pode chegar perto de brigar pelo ouro com Simone Biles, essa ginasta é ela. Competindo uma Rebeca "cravada" contra uma Simone inconstante, a brasileira pode levar a melhor. A romena Larisa Iordache quase conseguiu o feito em 2014.

    Apesar das novidades, analisando a competição percebemos que a seleção competiu basicamente com as mesmas séries do Mundial de Doha. A diferença real foi o solo de Rebeca (ela não competiu solo em Doha), sua nova entrada na trave, seu tkatchev carpado nas assimétricas e a nova série de Jade Barbosa também nesse aparelho. Então, qual foi a diferença de Doha para Cottbus? Por que os fãs agora estão se permitindo ser "Alices"*?

    A diferença está na confiança que a seleção demonstrou nessa competição. Competindo com grandes chances de um resultado inédito, a seleção se portou também de forma inédita: apresentou com segurança o que foi proposto, com segurança no potencial que possui e com a responsabilidade de um bom resultado. E, mais uma vez, muitos começam a sonhar com um resultado tido para muitos como impossível: possibilidade de colocações excelentes e medalhas no Mundial de Stuttgart.

    Mesmo com um menor grau de dificuldade em todas as suas séries, Thais dos Santos contribuiu bem no solo e trave. Carolyne Pedro entrou no lugar de Lorrane dos Santos, que ficou no Brasil e não mostrou a volta de alguns elementos que havia preparado no solo (flic sem mãos + duplo twist grupado e tsukahara). Jade foi poupada de impactos, mas sabemos que normalmente suas notas de solo e salto são muito importantes para a equipe. Flávia teve queda na trave e, nas classificatórias, Rebeca errou nas assimétricas. Tudo isso mostra que o Brasil ainda não se encontra em seu potencial máximo e, mesmo assim, foi capaz de vencer a Rússia. Essa talvez tenha sido a segunda vez que o Brasil venceu uma competição por equipes feminina (a primeira foi o Evento Teste dos Jogos do Rio em 2016).

    Para Flávia, algumas coisas são importantes pontuar: a sequência de dois layouts, marca registrada de sua série, está muito inconstante. Em Cottbus, errou na classificatória e na final. Apesar de muito bonita, a sequência entra na série apenas para uma bonificação de 0,2, já que os layouts valem 0,3 (elemento C) e não contam para a nota de dificuldade dos acrobáticos da série. Colocando na balança da dificuldade X execução, quanto Flávia perderia / ganharia sem essa sequência na série? Vale um teste antes do Campeonato Mundial. Sobre o solo, se não for para incluir uma acrobacia mais difícil no lugar do tsukahara, a raríssima** e impressionante sequência de flic sem mãos + duplo esticado não acrescenta nada em sua nota de dificuldade.

    Nota-se que a presença de Rebeca na equipe é muito importante. A seleção brasileira sem a Rebeca inteira é como a seleção americana sem Simone Biles. O Brasil precisa da liderança dela para aumentar a confiança na equipe e, consequentemente, conseguir notas mais altas. Essa competição na Alemanha marcou sua volta real depois de um longo tempo de recuperação completa das lesões no joelho. Precisamos que ela se mantenha assim, preservada, até os Jogos de Tóquio no ano que vem.

    O ouro na DTB Cup pode não ser um resultado de grande importância, mas foi um resultado de grande valor. O gosto da vitória, a concretização do resultado de um grande esforço e todo o feedback nacional e internacional são combustíveis para a confiança das nossas ginastas em sim mesmas e no grande trabalho que está sendo realizado. O próximo compromisso importante da equipe são os Jogos Pan-Americanos em julho e a torcida vai ser forte.

    * gíria popular para caracterizar uma pessoa que sonha com algo praticamente impossível
    ** a última ginasta a executar essa sequência com sucesso foi a americana Kristen Maloney em 2000.

    Post de Cedrick Willian
    Foto: CBG
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