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  • Jogos de Tóquio: final por equipes feminina. O que aconteceu com Simone Biles?


    A final por equipes masculina foi emocionante. A feminina não é possível definir. A cabeça ficou o tempo todo na Simone Biles, perdida no salto. Independente de qual seria a cor da medalha americana, a pergunta que pairava era: o que aconteceu com Simone Biles?

    Simone sucumbiu à pressão. Nas declarações de hoje, disse que "não podia prosseguir na final, porque sua lesão era na mente". Disse ainda que "não poderia competir duvidando de si mesma, correndo risco de se lesionar". Em outras palavras, estava fazendo mais ginástica para superar as expectativas das pessoas do que ela mesma.

    Tenho uma opinião a respeito do que aconteceu, que pode ser controversa. Fora toda a pressão da mídia, do país, fãs e quadro de medalhas, Biles sentiu o que toda ginasta normal sente quando treina no seu limite. Até 2016, a ginástica que Biles fazia não pressionava ela de forma alguma. Hoje ela está no limite do seu potencial, e no limite do seu potencial ela não é imbatível.

    Séries com duplo esticado, duplo com dupla, saída de tsukahara da barra e outras coisas "simples", ela sempre fez sem pressão alguma. Se ela tivesse com as mesmas séries "fracas" de 2016, tenho certeza que não teria acontecido nada disso. Porém, ela não é aquela garota mais, a das séries simples. Ela quis conhecer o limite do seu potencial e fez um ciclo insano para a ginástica artística feminina, homologando elementos que não serão executados, com ou sem a qualidade dela, durante muitos anos.

    Por isso que o que ela sentiu hoje é o que toda ginasta normal sente. Ginastas normais não conseguem competir com séries simples e serem campeãs olímpicas: elas precisam chegar no 100% para conseguir o que Biles consegue com 60%. No 100% existe pressão e medo de errar, e isso é novidade pra ela.

    O desejo é que ela se recupere, que simplifique as séries se necessário, mas que organize tudo o que precisar e volte para o pódio de Tóquio com o sorriso brilhante que tem. Não por ninguém, mas por ela mesmo. Se ela conseguiu fazer isso em 2016, competir e ser campeã passando por toda aquela tragédia americana, ela sem dúvidas consegue fazer isso agora. Simone, acreditamos em você!

    Passando a responsabilidade para sua equipe, ginastas que nem iam se apresentar acabaram entrando de última hora. E foi lindo de se ver a responsabilidade assumida por cada uma. Sunisa Lee cravando a barra com todas as ligações nessa situação de estresse foi inacreditável. A trave acertada com ligações tão difíceis também foi demais. A equipe americana não perdeu o ouro e sim conquistou a prata!

    A beleza da ginástica russa não pode ser ignorada. Depois do salto, fizeram uma barra impressionante, cravando todas as séries. Apesar de belas, na trave tiveram quedas e provavelmente notas infladas. Quedas em sequências de flic + layout! Como assim? Foi difícil acreditar que, mais uma vez, em mais uma chance incrível, iriam deixar o fracasso tomar conta. O sentimento foi quase de indignação: quando é que as russas vão aprender a serem boas em segurar suas chances? Felizmente no final, com solos muito bonitos e cravados, o sufoco acabou e finalizaram em primeiro. Destaque para Viktoria Listunova, que infelizmente não está na final individual geral, onde teria a chance de repetir a competição incrível que fez hoje. Com 14.700 no salto passaria dos 58 pontos no individual geral.

    As britânicas merecem os parabéns pelo grande feito conquistado hoje, medalha de bronze histórica, mas espero que o Comitê Técnico Britânico saiba reconhecer que o sucesso veio do esforço dessas meninas e não da escolha super inteligente que eles pensam que fizeram. Com certeza final é final, porém todas as equipes que estavam competindo hoje corriam atrás dos zilhões de erros e quedas que infelizmente a China teve.

    A equipe chinesa tinha um potencial muito superior em comparação aos Jogos do Rio e, ao invés de se redimirem, fizeram uma competição ainda pior. Uma pena! Essa final era impensável sem a China no pódio em segundo ou terceiro lugar. Na verdade o terceiro lugar era o cenário ruim! Fica a dúvida de como as ginastas vão se comportar nas finais individuais. Espero que o psicológico não fique abalado e que elas compitam melhores!

    Destaques da final: Melanie de Jesus do Santos (FRA) fazendo um all-around excelente e elevando o nível da equipe france; Sunisa Lee (USA) e Nina Derwael (BEL) cravando suas séries de assimétricas e empatando com 15.400 (numa final Nina ficaria à frente por conta da execução); Vanessa Ferrari (ITA), Mai Murakami (JPN), Jessica Gadirova (GBR), Viktoria Listunova (RUS) e Angelina Melnikova (RUS), todas finalistas de solo e repetindo performances muito interessantes.

    Resultados completos aqui.

    Texto de Cedrick Willian
    Foto: Thomas Schreyer
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