


FIG confirma calendário do Mundial de Ginástica Rítmica do Rio de Janeiro
18 de julho de 2025
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19 de julho de 2025O brasileiro Diogo Soares está na Alemanha, em um estágio de aclimatação para competir nos Jogos Universitários de 2025. Durante esse processo, ele tem realizado seus treinamentos com aparelhos da marca Spieth, uma das mais utilizadas em eventos da FIG e classificada entre as de melhor qualidade. Entretanto, após deixar o Flamengo, essa aparelhagem passou a ser uma novidade na rotina do atleta e isso parece ter despertado sua sensibilidade.
“Esses aparelhos de competição são tão bons. Queria muito treinar nessa aparelhagem todos os dias. Quem sabe voltaremos a ter um ginásio completo com essa aparelhagem toda”, disse Diogo em uma publicação no Instagram, ao comparar a estrutura do ginásio de aclimatação com a do seu clube atual, o Pira Olímpica, em Piracicaba, interior de São Paulo. “Confesso que já é difícil disputar com as grandes potências na ginástica artística. E é bem desanimador voltar pra um ginásio que está bem abaixo do ginásio de atletas que disputo atualmente”, continua, em tom de lamento.
É importante lembrar que, no Flamengo, os aparelhos disponíveis eram os mesmos encontrados atualmente na Alemanha, uma realidade que Diogo já não vivencia diariamente. “Ter uma aparelhagem de ponta faz total diferença. Especialmente quando se compete em nível mundial, onde os mínimos detalhes podem decidir tudo. Eu sei que a falta desses equipamentos no meu dia a dia não só pode afetar, como já está afetando diretamente o meu rendimento”, completa.
Na mesma publicação, o piracicabano também faz uma crítica ao sistema clubista brasileiro, indicando certo monopólio e concentração excessiva de recursos em poucos pontos, e aponta as dificuldades para o avanço da ginástica no país, principalmente pela falta de oportunidades mais acessíveis e populares. “Acredito que não se deve concentrar os atletas de um país em poucos clubes já estruturados. Em vez disso, é fundamental criar mais estruturas pelo país, ampliando as oportunidades para os muitos técnicos qualificados que temos e oferecendo acesso aos atletas sem que eles precisem deixar suas cidades, suas famílias e sua base de apoio”.
“Mesmo sendo óbvio que aparelhagem faz diferença, principalmente no alto rendimento, uma coisa que sempre me encantou é que meu treinador e eu nunca colocamos a culpa nos aparelhos. Não sei se foi por desespero ou teimosia mesmo, mas, em vez de pensar ‘se eu tivesse um solo de alta performance, eu seria melhor’, a gente pensava ’com esse solo que não é dos melhores, vamos ter que fazer mais força para executar as séries e isso vai nos deixar ainda mais fortes’”, continuou.
Além da crítica, Diogo também expôs o motivo pelo qual deixou o Flamengo. “Esse é um dos motivos pelos quais decidi voltar para a minha cidade. Foi aqui que sempre fui feliz fazendo ginástica, fazendo o que amo, cercado por pessoas que me apoiam, mesmo sem ter a aparelhagem que todos os outros atletas da seleção têm atualmente. Já ouvi muitas vezes que o tipo de treino que faço com meu treinador está errado e, podem acreditar, até hoje ainda ouvimos isso. Mas foi justamente esse treino, a parceria com meu treinador, a confiança, a força de vontade, o apoio da minha família e até os olhares de inveja que já senti penetrarem meu corpo até alcançarem meu coração, que me levaram a dois Jogos Olímpicos adultos e um juvenil. E, se Deus quiser, vai ser esse caminho que vai me levar à minha medalha olímpica”.
O treinador de Diogo é Daniel Biscalchin, fundador do Pira Olímpica, onde o ginasta treina atualmente. O profissional chegou a acompanhar o atleta no período em que estiveram no Flamengo, no Rio de Janeiro, deixando a esposa e o primeiro filho para trás para viver o sonho da segunda Olimpíada, sonho esse que se concretizou em Paris.
Entre altos e baixos, e até conflitos internos com a equipe do clube, a dupla deixou o Flamengo e, após os Jogos, retornou a Piracicaba. Muitos meses depois, Diogo aproveitou as redes sociais para revelar que parte dessa decisão está ligada a um plano maior de desenvolvimento da modalidade na região. A ideia envolve o poder público, semelhante ao que Arthur Zanetti e seu treinador, Marcos Goto, conquistaram mais de uma década atrás.
“Estamos trabalhando para viabilizar um projeto na minha cidade. Abrir um ginásio de alto rendimento que também atenderá cidades vizinhas. Sabemos que o interior do país está cheio de talentos esperando apenas uma oportunidade. Garotos e garotas com potencial não só para se tornarem grandes ginastas, mas também grandes seres humanos, mais disciplinados, resilientes e determinados. Mas tenho certeza de que todo esse esforço vai fazer a diferença na minha carreira no futuro e também na trajetória de muitos outros atletas, de forma positiva e transformadora”, confessou.
Arrojados, mas sem tirar os pés do chão, Diogo e Daniel escrevem novas páginas de suas histórias difícil e empenhada, mesmo sem saber, ainda, o desfecho desse livro. “Eu sei, fui doido de arriscar minha carreira voltando pro meu antigo ginásio, mas talvez o mais importante de tudo não seja simplesmente ter o melhor resultado do mundo. Talvez seja a história que você constrói, o caminho que você escolhe, a coragem de transformar o impossível em possível. E, principalmente, o olhar de admiração de uma criança quando pede uma foto. Porque, no fim das contas, é isso que realmente fica”.