Japonesas chegam bem em Jacarta e mostram força para dominar ciclo de LA28
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5 de outubro de 2025Desde maio, o mundo sabia quais seriam os atletas japoneses que iriam disputar o Mundial de Jacarta. É muito interessante como o Japão consegue, desde muito cedo, fazer um direcionamento para que as equipes sejam definidas muito tempo antes do Mundial. Será que isso é algo realmente bom e saudável? Quais são os prós e contras?
Aparentemente a equipe tem mais tempo para se organizar, dentro de uma análise geral em quatro dias de competição: o All Japan Championships e a NHK Cup, ambos com dois dias de competição individual geral. Faz-se um somatório dessas duas competições e dessa forma definem quais são os ginastas que vão representar o país no Mundial. Não é apenas uma série ou um dia de competição: são quatro dias de competições, o que dá até uma margem de erro para o ginasta, visto que ele nem sempre acerta todas as vezes. É possível, então, avaliar a constância entre esses atletas. Qual atleta foi mais consistente? Com quem é mais seguro contar? Pode ser que um ginasta tenha um “primeiro dia” sensacional e nos outros três erre tudo!
Esse é um tipo de avaliação bem interessante, que dá espaço para que os ginastas apresentem de fato uma consistência, seja de acerto ou de erro. Outra coisa favorável é o fato de saber quem vai para o Mundial mais cedo, o que dá um tempo de trabalho em equipe melhor.
A escolha foi feita em maio, repito. De lá para cá foram quatro meses e ainda faltam cerca de duas semanaspara chegar o Mundial. São cinco meses de preparação focada e direcionada nesses atletas que vão representar o país, e isso interfere diretamente na performance e nos resultados. Ainda nos pontos a favor, podemos falar, também, sobre a clareza nos critérios.
Por mais que existam polêmicas – como a da Shoko Myiata, que foi cortada por fumar, e a Mai Murakami, que era muito melhor do que as outras, mas que estava lesionada, competiu mal e ficou fora da equipe), isso mostra que eles têm um critério, um padrão de comportamentos e regras que devem ser cumpridos. O importante aqui não é a “punição” do atleta, mas seguir as regras do que foi combinado. No caso de Myiata, o fato dela ter fumado ou não, não é algo que afeta diretamente a equipe, mas é algo que a atleta sabia que estava no regulamento e conscientemente descumpriu. Se ela descumpriu, ela não pode participar.
Qualquer regra descumprida é levada muito a série, e isso é interessante porque gera respeito pelo processo e pelos critérios. Se ela tivesse fumado, por exemplo, e nada tivesse acontecido, daria espaço para que outras pessoas descumprissem essa e outras regras, sejam elas quais fossem. Isso geraria um caos no processo de seleção deles, dando espaço para mais exceções.
Veja como as meninas do Japão estão se preparando para o Mundial de Jacarta:
Por outro lado, a escolha precoce da equipe também tem suas partes ruins. Talvez a organização tire a concorrência dos atletas um pouco cedo demais e isso gere um relaxamento nesse atleta, que já garantiu sua vaga no Mundial e não tem mais concorrente interno para se preocupar, diminuindo os esforços em treinamento. Também podem ocorrer lesões nos atletas selecionados e pode ser que o ginasta reserva não acreditasse mais que entraria na equipe e, talvez, não estar treinando com toda intensidade que deveria.
Fora isso, outros países que concorrem diretamente com o Japão conseguem conhecer a equipe e montarem suas estratégias de acordo com isso. A partir dos atletas escolhidos pode se chegar a uma conclusão quanto aos resultados da mesma, por exemplo: uma equipe com cavalo com alças “forte” e barra fixa “fraca”, pode motivar uma outra equipe a levar uma argola mais “forte” que consiga suprimir a nota do Japão no cavalo com alças. Isso é estratégia e abre um leque de possibilidades para os adversários, que se preparam melhor nesse sentido.
Outra parte complicada de se escolher cedo é que as competições acontecem no primeiro semestre do ano. Os atletas japoneses tiveram que começar o ano entregando competições no individual geral e em uma forma física que, talvez, teve um auge muito cedo. Dessa forma os treinadores tiverem que trabalhar com dois picos de periodização de treino durante o ano, um para a seletiva e outro para o Mundial, sujeitando esses atletas a lesões.
No geral, analisando prós e contras, o que com certeza fica de mais positivo em todo esse processo de classificação das equipes japonesas para o Mundial e para as Olimpíadas, é a clareza nos critérios e a execução, de fato, das regras, que sempre são cumpridas. Isso é uma aula de responsabilidade que o Japão dá para os outros países do mundo e que o Brasil precisa aprender.