
Brasil investe na combinação de ginastas experientes e jovens talentos para o Mundial de Ginástica de Trampolim
6 de novembro de 2025Em entrevista exclusiva ao Gym Blog Brazil, Amanda Yap conta como foi participar do Mundial de Jacarta, lembra um pouco da sua história com o esporte e ainda projeta os planos para o futuro
Aos 16 anos, Amanda Yap já carrega uma trajetória que mistura talento, disciplina ferrenha e feitos inéditos para a ginástica de Singapura. A jovem atleta, que começou no esporte ainda na infância inspirada pela irmã mais velha, passou dos treinos recreativos às competições escolares até decidir, no ensino médio, dedicar-se de forma integral à modalidade. Para isso, abriu mão de hobbies como o piano e ingressou no Centro Nacional de Treinamento, onde segue aperfeiçoando suas séries.
O salto internacional veio em 2024, quando disputou seu primeiro campeonato fora do país: o Asiático Júnior, no Uzbequistão. Ali, alcançou duas finais e conquistou uma surpreendente medalha de prata na trave, resultado que se tornaria o combustível para mirar mais alto. O ápice dessa ascensão ocorreu no Mundial de 2025, quando Amanda se tornou a primeira atleta de Singapura a alcançar uma final mundial em um aparelho. Isso bem do lado da sua casa, em Jacarta, na Indonésia.
A classificação histórica — seguida de um 6º lugar na final da trave — repercutiu amplamente em seu país, colocando Amanda no centro das atenções e despertando orgulho nacional, da comunidade esportiva ao presidente da República. A conquista veio, inclusive, em meio a uma rotina complicada: entre um voo e outro para Jacarta, a ginasta conciliava treinos com exames escolares decisivos para sua entrada na Singapore Sports School.

Agora, Amanda mira um novo ciclo competitivo, com metas que incluem os Jogos do Sudeste Asiático, os Jogos Asiáticos, a Commonwealth e uma ambiciosa — mas cada vez mais real — projeção para Los Angeles 2028. A seguir, o bate-papo completo com a grande revelação do ano.
1) Primeiro, você pode contar um pouco sobre sua história com a ginástica até o Mundial de 2025?
Tenho feito ginástica desde que me lembro. Minha irmã mais velha competia pela escola, e eu cresci assistindo às apresentações dela. Fiz aulas para crianças e, quando entrei no ensino fundamental, passei a competir pela Methodist Girls School — foi ali que desenvolvi meu amor pelo esporte. Eu treinava por diversão, até que, no ensino médio, disse aos meus pais que queria focar de verdade na ginástica. Larguei hobbies como o piano e entrei para o Centro Nacional de Treinamento, onde estou até hoje. No ano passado, competi pela primeira vez fora do país, no Campeonato Asiático Júnior, no Uzbequistão. Cheguei a duas finais e, inesperadamente, conquistei a prata na trave. Isso me motivou muito a trabalhar ainda mais para o Mundial.

2) Você foi a primeira atleta de Singapura que alcançou uma final mundial adulta. Como sua confederação, sua família e seu país reagiram?
Minha família e minhas companheiras de equipe acompanharam tudo pelas subdivisões, vendo a transmissão e os resultados ao vivo. Eu estava feliz com a minha classificatória, mas achávamos loucura imaginar que eu realmente chegaria à final. Só depois da subdivisão 8/9 percebi que minha colocação ainda era alta e que eu tinha chance. Ficamos esperando o “Q” aparecer ao lado do meu nome. Eu estava em casa, com minha família, todo mundo gritando enquanto aguardava. Quando finalmente apareceu, todos choraram, abraçaram, comemoraram. Até agora não caiu a ficha. Recebi tanto apoio, inclusive do presidente de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, que postou congratulações nas redes. Também conheci o embaixador de Singapura na Indonésia. Foi muito especial.
3) Após a classificatória, você voltou para Singapura. Por quê?
Eu estava no meio de exames nacionais muito importantes, necessários para eu entrar na Singapore Sports School. Não era o ideal fazer provas e competir ao mesmo tempo, e até pensei em adiar os exames, mas não existe um momento perfeito. Ingressar na Sports School vai me ajudar muito a equilibrar estudos e treinos nos próximos anos.
Sinceramente, não acreditávamos que eu chegaria à final, então não havíamos planejado ficar para as finais por aparelho. Como Jacarta é perto — apenas duas horas de viagem — consegui fazer uma prova, voar no dia anterior ao pódio, competir e voltar. Quando descobrimos que eu estava na final de sábado, tive de embarcar novamente na sexta à noite, depois da prova de matemática.

4) Na final, você terminou em 6º lugar. Como foi estar entre as melhores do mundo?
Ainda estou processando tudo. Ser anunciada como finalista ao lado de atletas tão grandes é algo difícil de acreditar.
5) No dia da competição, como foi sua rotina? Alguma memória marcante?
É difícil explicar o que é competir ao lado de atletas que acompanho há anos, como Flávia Saraiva, que considero uma gigante na trave, e Ellie Black, uma competidora e referência incrível. Conversei com a Ellie, que foi muito gentil e me deu palavras de incentivo. Tentei não pensar nessas estrelas e focar apenas no meu trabalho. Tudo aconteceu muito rápido: cheguei a Jacarta depois da prova, acordei, treinei, aqueci… e, quando percebi, já era a final.
Veja a prima de Amanda na final de Jacarta:
6) A trave é seu aparelho favorito?
Na verdade, eu não diria que a trave é o meu aparelho favorito, apenas tive a sorte de ter algumas boas apresentações nela. Acho que a minha abordagem em relação à trave foi moldada desde que eu era mais jovem, com minha ex-treinadora Yuan Kexia, que enfatizava fundamentos sólidos e a arte no aparelho. Desde que me mudei para o Centro Nacional de Treinamento, a treinadora Zhang Zhen tem sido fundamental ao me orientar sobre os elementos que posso adicionar progressivamente, e ela tem muita experiência nessa área — fico muito feliz por podermos trabalhar juntas na minha evolução.
7) Olhando para o futuro…
Em dezembro, terei minha primeira participação nos Jogos do Sudeste Asiático, em Bangkok. Esse evento tem muita história no esporte da nossa região, então espero ir bem e conquistar uma medalha. No próximo ano, teremos dois grandes eventos: os Jogos Asiáticos, no Japão, e a Commonwealth, em Glasgow. Também quero muito disputar o Mundial de Rotterdam e, quem sabe, minha primeira Copa do Mundo ou Challenger. E, no longo prazo, o objetivo definitivo é Los Angeles 2028.



