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  • O que esperar do Campeonato Pan-Americano 2021


    O Campeonato Pan-Americano está chegando e esse talvez seja um dos momentos mais esperados pela ginástica brasileira desde o fim do Mundial de Stuttgart, quando a seleção feminina não conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos. Na ocasião, Flávia Saraiva conquistou sua vaga olímpica através do individual geral e ainda foi finalista de solo e trave, ao passo que a seleção masculina conseguiu classificar uma equipe completa pela segunda vez.

    BRASIL

    O desejo e o trabalho de toda a equipe, desde então, era que Rebeca Andrade se recuperasse a tempo de competir no Pan terminando entre as duas melhores ginastas all-arounder e conquistar uma das duas vagas olímpicas. Como vimos nos treinos abertos da seleção e vídeos que foram saindo nas redes sociais, a disputa pela vaga vai ser com ela mesma. Com a ausência dos Estados Unidos - que nesse momento ainda poderia conquistar uma vaga através do Pan -, as adversárias dela serão, em primeiro lugar, as próprias brasileiras, como Jade Barbosa e Lorrane dos Santos. Como a vaga é nominal, todas as participantes do Brasil tem que lutar pelo primeiro lugar entre elas. Seguindo a lista de participantes, a rival direta do Brasil é a venezuelana Jessica Lopez.

    Jessica voltou a treinar já tem um tempo de olho nessa vaga. Durante um tempo, postou vídeos nas redes sociais fazendo elementos e séries interessantes, mas foram apagados e a ginasta acabou "sumindo" das redes sociais. Houve comentários de que isso foi uma estratégia usada para abafar sua participação e não revelar suas séries antes da hora. Realmente o que ela vai apresentar será surpresa pra todos, mas nos vídeos antigos tinha até yurchenko com dupla no salto em jogo, além das combinações nas barras assimétricas.

    A lista de participantes conta com a argentina Martina Dominici, que provavelmente fará uma boa competição, mas que já está classificada. Fora Dominici, a melhor all-arounder argentina listada é Abigail Magistrati, que não incomoda a classificação do Brasil. Ana Irene Palacios, da Guatemala, também corre por fora em busca da segunda vaga, além da equipe mexicana, que está fraca. Resumindo: a disputa está entre Brasil e Jessica Lopez.

    No masculino, a situação é diferente: como o Brasil já está classificado como equipe, a vaga não é nominal. Porém, nenhum dos ginastas que esteve presente na equipe que conquistou a vaga, em 2019, pode ser responsável pela conquista. Dessa forma, as chances ficam em torno de Diogo Soares ou do Tomas Rodrigues.

    A disputa é direta com os americanos, especialmente com Cameron Bock e Riley Loos, com Donnell Whittenburg correndo por fora. Bock e Loss mostraram esse ano, na Winter Cup, um trabalho bom suficiente para ficar com uma das vagas, com notas em torno de 83 pontos all-around.

    A grande questão agora é sobre o colombiano Jossimar Calvo. A última participação internacional de Jossimar na competição all-around foi no Mundial de 2018, e foi bem discreta levando em consideração seu histórico de sucesso. Desde então, não participou do Pan de 2019 e logo depois entrou a pandemia. As apresentações de Calvo serão uma surpresa pra todos. Existe pouquíssima informação a respeito dos treinos do ginasta.

    As vagas no masculino vão girar em torno do Brasil, com Diogo e Tomas; dos Estados Unidos, com Bock e Loos; e da Colômbia, com Jossimar. Alguns nomes de destaque, como o argentino Frederico Molinari e o chileno Tomas Gonzales, também estarão em ação, mas com pouquíssimas chances de conseguir uma vaga. Pode ser quem nem estejam no Pan para competir em todos os aparelhos, já que suas últimas aparições foram com foco nas especialidades de cada um.

    É possível que o Brasil conquiste mais uma vaga nessa competição e que Diogo consiga uma estreia olímpica já em Tóquio. Acredito e acho justo que o responsável pela conquista da vaga, mesmo que não seja nominal, deva ser o representante do Brasil.

    Fora a classificação olímpica, a competição vai marcar o retorno de Lorrane Oliveira e Jade Barbosa às competições. Também será oportunidade de Arthur Nory, Arthur Zanetti, Francisco Barreto e Caio Souza (possível equipe olímpica) testarem suas séries antes dos Jogos. Além dos Jogos, toda a seleção ainda tem um Campeonato Mundial pela frente.

    ESTADOS UNIDOS

    A não participação dos Estados Unidos no feminino foi uma surpresa. O país já possui a vaga por equipes, a vaga das Copas do Mundo all-around e, pelas Copas de Especialistas, a vaga de Jade Carey pelo salto. Todas as vagas são dos país exceto a de Jade. Pelas regras da classificação, as vagas que fossem conquistadas primeiro (dentro do limite de 6 por país) seriam as vagas oficiais. Como as Copas de Especialistas ainda não foram oficialmente finalizadas, caso os Estados Unidos trouxesse uma equipe para o Pan era provável que o país conseguisse mais uma vaga para colocar quem quisesse pelos Trials.

    A situação acima aconteceu com a seleção masculina da Rússia, que adicionou mais uma vaga pelo Continental Europeu, chegando ao limite de 6 atletas. Isso automaticamente exclui as chances que Vladislav Poliashov ainda tinha de se classificar nas Copas de Especialistas através da paralela.

    Penso que tomaram a decisão de acordo com o mais justo dada a situação da Jade Carey. Oficialmente, em 2020 as Copas de Especialistas seriam finalizadas antes do Pan, ou seja: Jade teria conquistado sua lugar e os EUA não poderiam mais adicionar nenhuma vaga. Outro motivo: Jade viajou e competiu as Copas de Especialistas com seu próprio dinheiro, uma das regras impostas USA Gymnastics na época.

    CANADÁ

    A decisão do Canadá também foi bem assertiva, já que teriam poucas chances de conquistar uma vaga no Pan; a equipe masculina está com pouca expressão internacional já tem um tempo. A possibilidade de conquista era com Felix Dolci, que competiu o Mundial Juvenil em 2019 e apresentou bastante potencial. O ginasta mostrou upgrades em treino e poderia estar no Pan concorrendo a uma vaga que, no caso dele, seria nominal.

    No feminino as chances eram bem pequenas também, já que suas principais ginastas estavam na equipe do Mundial de 2019. A seleção feminina está sofrendo desfalques até pra Tóquio: Ana Padurariu não participou do Elite Canada esse ano e está se recuperando de lesões. A melhor opção do país era com Ava Stewart, que conquistou 54,900 no último Elite Canada. Sem experiência internacional - a ginasta entrou pra categoria adulta esse ano-, é provável que a preparação dela esteja focada já nos Jogos dentro da equipe. Afinal: se o país conquistasse mais uma vaga olímpica, quem iria?

    SOBRE OS JOGOS

    Desde o fim do Continental Europeu a comunidade internacional da ginástica voltou os olhos para o Continental Pan-Americano. Havia uma torcida pela classificação da romena Larisa Iordache que foi transferida para Rebeca Andrade. Essa é a classificação mais importante na disputa do Pan, tanto para o esporte quanto pro Brasil: todo mundo quer a Rebeca em Tóquio.

    A moral da ginasta só cresceu: o nome dela aparece em vários tweets e a empolgação tomou conta depois do treino aberto da seleção feminina. A classificação dela também pode estimular ainda mais  Flávia Saraiva, que teria uma companhia de viagem, treino e competição, dividindo a responsabilidade da bandeira. Mesmo sem uma equipe, as duas carregam grandes chances de finais e, consequentemente, medalhas.

    A chateação fica por conta da desvalorização do Campeonato Pan-Americano de um modo geral. A cultura do Pan ainda não foi criada, como no Europeu. Claro que o berço da ginástica mundial está na Europa, mas nas Américas temos campeões mundiais, olímpicos e mitos do esporte, que poderiam fazer um Pan-Americano brilhante todo ano. Analisando o perfil das redes sociais dos atletas europeus, você sempre encontra na biografia: campeão europeu, prata no europeu, etc. Aqui parece que o orgulho de ser campeão pan-americano ainda é pequeno. Até hoje o melhor resultado feminino do Brasil fica com Luisa Parente. Quais as causas disso?

    A equipe masculina dos Estados Unidos vai competir apenas no primeiro dia, que vale vaga para os Jogos, e depois vai embora. O motivo não é só o pandemia: se fosse assim, por que os ginastas ficaram e competiram as finais do Europeu enquanto os Estados Unidos vai embora do Pan-Americano? A diferença começa na organização e a referência não é os Jogos Pan-Americanos, que são sempre muito bem organizados. Estamos falando do Campeonato Pan-Americano que acontece todo ano, antes dos Jogos. 

    Talvez nós mesmos desvalorizamos o Campeonato mais importante das américas, não dando atenção a pequenos detalhes que fazem muita diferença, como: a data em que o evento é realizado; decoração da arena; iluminação; falta de pódio para os aparelhos; falta de uma boa transmissão; live scoring e acesso às notas; documentos informativos completos; redes sociais oficiais com atualizações. Durante o Europeu, houve vários relatos de ginastas nas redes sociais elogiando o ginásio, acompanhando a transmissão de longe, as famílias torcendo em casa. Os ginastas demonstravam um orgulho de estar ali. Quando você entra e vê uma boa estrutura e organização, sente logo o peso do que está por vir (clique aqui e acesse o belíssimo Instagram oficial do último Europeu).

    Outro fator que pode contribuir é o interesse dos países em participar com seus melhores ginastas e fazer crescer a competição. Conquistar títulos que sejam acirrados, que elevem o grau da conquista, sem esquecer, claro, que existe uma hierarquia de títulos e conquistas dentro da periodização de cada atleta e equipe a nível mundial. Não é pra queimar as chances de um título mundial ou olímpico competindo o Pan, mas colocar o Pan dentro da periodização. Para noção comparativa, Biles nunca competiu um Pan, mas já foi, por exemplo, para edições do Troffeo Jesolo, na Itália, como parte da preparação da equipe americana. A data era propícia? O evento era mais competitivo?

    Vale a tentativa e os esforços da União Pan-Americana de Ginástica em repensar a organização desse evento. Questionar, conversar, unir, ouvir e melhorar! Só temos a ganhar com isso. O evento cresce, a participação cresce, o orgulho dos atletas cresce e a ginástica do nosso continente também cresce. Vamos torcer para ainda ver uma arena bonita e bem estrutura, com arquibancada lotada (pós-pandemia), cheio de ginastas renomados, e que não seja apenas nos Jogos Pan-Americanos.

    Texto de Cedrick Willian
    Foto: Ivan Ferreira / MeloGym
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